“Nhá Núncia” (1903-1992) foi uma das últimas e mais conhecidas ‘paneleiras’ remanescentes do início do século XX em Cunha. Filha do casal Benedito Pinto e Clementina de Jesus, aprendeu com seus pais a fabricar vasilhas de barro em forma de panelas, potes, moringas, travessas, cuscuzeiros e outros objetos de uso. Por toda vida trabalhou o barro. Assim assegurou, ainda que temporariamente, a continuidade de um antigo ofício artesanal quase sempre exercido por mulheres. Durante muito tempo isolado dos centros urbanos por falta de boas estradas, o município de Cunha foi objeto de estudo do antropólogo americano Robert Shirley que, ainda nos anos 1960, o definiu
Como reduto de uma “cultura caipira” em processo recente de modernização. Integrada a essa cultura local preservada, a “cerâmica caipira” de Cunha descendia das cerâmicas dos povos
indígenas antes estabelecidos naquela região – em cujo solo até hoje se encontram grandes depósitos de argila, matéria prima básica da cerâmica. As ‘paneleiras’ mantiveram sim certas formas padrão das vasilhas, os métodos ancestrais de extração e preparo da argila, o uso de ferramentas simples para modelagem do barro e de colorações extraídas da terra, usadas para desenhar motivos decorativos. Os objetos de barro feitos sistematicamente por Nhá Núncia e por outras artesãs locais até meados do século passado, hoje perderam sua função original utilitária, ganhando valor decorativo e histórico.
Preservando a tradição cerâmica de Cunha com um acervo digital de mais de 200 obras, o Memorial promove arte e história local.
Projeto realizado com apoio do Governo do Estado de São Paulo. Secretaria de Estado da Cultura – Programa de Ação Cultural – 2009